sábado, 6 de fevereiro de 2010

De doer o Coração



É duro passar pelas cidades humildes de minas, notadamente no Vale do Mucuri, como Poré, Malacacheta e Água Boa, e ver a população rural, castigada pelo sol e miséria, levar seus produtos para vender na praça. Os mercados livres ocorrem nessas cidades, geralmente aos sábados, fazem parte de um folclore conhecido: as próprias famílias- pais filhos e netos - vão ali vender tudo o que produzem de maneira rudimentar: farinha, couve, pimenta até mandioca, milho e feijão, incluindo galinha, porco e etc...

No fim da feira, muito pouco é vendido. E o muito que é refutado vai perdendo o viço , acaba sendo trocado, como forma de subsistência entre os próprios produtores. A gente da cidade grande ali, visitante, vai comprar milho verde, por exemplo, e descobre a completa falta de política agrária. Para não dize desumana mesmo do governo, com quem ainda produz alimento nesse país.

-Quanto custa o milho? pergunto
Uma mulher com o rosto cheio de rugas, a pele seca, mãos calejadas e dentes poucos, responde:
-Dois reais, "seu" moço
Dou o dinheiro, duas moedas somente, que ás vezes nem pegamos de troco em BH. E ela, que tem rosto com sulcos profundos e sorriso bom, pega uma sacola de plástico usada, escolhe uma dúzia( e não uma espiga como perguntei). Acrescenta mais duas, como cortesia, já são 14 e diz:
-Deus lhe pague, "seu" moço!
Penso em Deus e faço as contas: cada espiga do milho que aquela mulher de ar sofrido conseguiu colher em meio à seca constante, depois de tanto ter cuidado da roça,pegado na enxada com o marido e filhos, cavoucando o chão, capinando o mato, colhida a safra, colocado no lombo do burro, etc.. e vendido ali para sustento da sua família vale.... 0,14 centavos????

É assim que o governo e os políticos do setor, apesar de todo um discurso histórico de investimento e apoio que propagam, ainda tratam, doidamente, o nosso homem do campo.

É injusto demais! Tal como ainda fazemos com quem produz leite, ainda hoje absurdamente mais barato que um litro de refrigerante.
Até quando?????

Revista Ecológico - Fev de 2010 - Seção Kid Itabirito , O Espírito que anda pelas Gerais, pg 09

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