quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Terra é incapaz de acompanhar ritmo atual de consumo de carnes e pescado



No topo absoluto da cadeia alimentar, os seres humanos se dão ao luxo de comer de tudo, mas a um preço elevado: a pesca massiva está levando as espécies marinhas à extinção, e a piscicultura polui a água, o solo e a atmosfera - o que precisa fazer com que mudemos de hábitos.

Alimentar a humanidade - nove bilhões de indivíduos até 2050, segundo as previsões da ONU - exigirá uma adaptação de nosso comportamento, sobretudo nos países mais ricos, que precisarão ajudar os países em desenvolvimento.

Segundo um relatório da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), publicado nesta quinta-feira, a produção mundial de carne deverá dobrar para atender à demanda mundial, chegando a 463 milhões de toneladas por ano.

Um chinês que consumia 13,7 kg de carne em 1980, por exemplo, hoje come em média 59,5 kg por ano. Nos países desenvolvidos, o consumo chega a 80 kg per capita.

"O problema é como impedir que isso aconteça. Quando a renda aumenta, o consumo de produtos lácteos e bovinos segue o mesmo caminho: não há exemplo em contrário no mundo", destacou Hervé Guyomard, diretor científico em Agricultura do Instituto Nacional de Pesquisa Agrônoma da França (INRA), responsável pelo relatório Agrimonde sobre "os sistemas agrícolas e alimentares mundiais no horizonte de 2050".

Atualmente, a agricultura produz 4.600 quilocalorias por dia e por habitante, o suficiente para alimentar seis bilhões de indivíduos.

Deste total, no entanto, 800 se perdem no campo (pragas, insetos, armazenamento), 1.500 são dedicadas à alimentação dos animais - que só restituem em média 500 calorias na mesa - e 800 são desperdiçadas nos países desenvolvidos.

Por outro lado, o gado custa caro ao meio ambiente: 8% do consumo de água, 18% das emissões de gases causadores do efeito estufa (mais que os transportes) e 37% do metano emitido pelas atividades humanas.

E, mesmo que seja fonte essencial de proteínas, a carne bovina não é "rentável" do ponto de vista alimentar: "são necessárias três calorias vegetais para produzir uma caloria de carne de ave, sete para uma caloria de porco e nove para uma caloria bovina", explicou Guyomard.

Desta maneira, mais de um terço (37%) da produção mundial de cereais serve para alimentar o gado - 56% nos países ricos - segundo o World Ressources Institute.

Seria o caso, então, de reduzir o consumo de carne e substitui-lo pelo peixe?

Os oceanos não podem ser considerados uma despensa inesgotável, estimou Philippe Cury, diretor de pesquisas do Instituto de Pesquisas para o Desenvolvimento (IRD).

O número de pescadores é duas a três vezes superior à capacidade de reconstituição das espécies.

No atual ritmo, a totalidade das espécies comerciais haverá desaparecido em 2050.

Fonte: Uol Meio Ambiente

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Forest Footprint Disclosure



Foi lançada semana passada em Londres (Inglaterra) uma iniciativa que pretende desvelar a rede intricada que existe por trás do desmatamento de florestas tropicais em todo o mundo. O Forest Footprint Disclosure Project, algo como Projeto de Divulgação da Pegada Florestal, será uma das mais amplas tentativas já realizadas de mapear a relação entre o comércio global de commodities e a perda de biodiversidade. Para isso, 150 das maiores multinacionais de todo o mundo receberão questionários onde serão convidadas a abrir dados sobre a origem de suas matérias-primas. O governo do Reino Unido é um dos principais financiadores da empreitada.

O quadro que sairá do levantamento certamente não será dos mais bonitos. Mesmo com os primeiros resultados prometidos para janeiro de 2010, o projeto liberou no dia de seu lançamento um pequeno documento onde lista quais são as principais ameaças às florestas tropicais. O estudo demonstra que seiscommodities globais - soja, óleo de palma, carne bovina, couro, madeira e biocombustíveis - estão impulsionando a destruição das regiões de maior riqueza biológica do planeta.

“Queremos mostrar às empresas os riscos envolvidos em seus negócios ao explorarem os recursos naturais”, argumenta Andrew Mitchell, chefe do comitê gestor do Forest Footprint Disclosure. Segundo ele, ao continuarem a consumir cegamente produtos das florestas nativas, existem três principais riscos que as grandes multinacionais parecem não enxergar. O primeiro deles é a perda de investidores, como grandes fundos de pensão e gestores de ativos. O segundo é o do aumento do preço da matéria-prima graças a restrições dos governos. E o terceiro é o da perda de reputação frente aos consumidores.

“E existe um quarto risco, mais difícil de entender”, continua Mitchell, “É o risco de que ao contribuir para a destruição das florestas, a companhia coloque em jogo o seu próprio negócio, pois são as florestas que fornecem regulação do clima, água potável, polinização e tantos outros serviços ambientais”, ressaltou.

É com essa visão que o projeto da “pegada florestal” conquistou alguns dos maiores investidores do mercado financeiro. Doze gestores de fundos, com ativos estimados em 1,3 trilhão de dólares, já anunciaram seu apoio ao Forest Footprint Disclosure. Isso quer dizer que, quando receberem o questionário pedindo informações sobre suas matérias-primas, muitas multinacionais estarão sendo observadas por alguns dos maiores compradores de ações do planeta.

“O projeto deve ajudar as companhias a pensar e contabilizar seus impactos e sua dependência das florestas. Isso certamente vai influenciar decisões sobre o acesso aos recursos naturais. Abrir informações implica em mudanças nas permissões de uso e de licenças para operar, seja através de medidas tomadas por investidores ou por autoridades”, pondera Pippa Howard, diretora de Parcerias Corporativas da Fauna e Flora Internacional, uma das maiores entidades ambientalistas do mundo e membro do comitê do Forest Footprint Project.

As informações geradas pelo relatório ajudarão a Fauna e Flora a continuar seus estudos sobre a dependência de diversos setores da economia de serviços ambientais. Em parceria com o Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (UNEP), a ong tem o projeto Valorando a Natureza (veja aqui), onde estuda 31 companhias de setores diversos como fumo, alimentação e varejo.

O lançamento do Forest Footprint Disclosure foi mais uma demonstração de que as empresas definitivamente entraram na linha de tiro das ações de combate ao desmatamento e ao aquecimento global. Depois da repercussão mundial do relatório do Greenpeace mostrando que a cadeia produtiva de carne e couro no Brasil estava intimamente ligada ao avanço do desmatamento na Amazônia, o projeto deve elevar ainda mais a pressão sobre os setores que tem uma alta pegada florestal.

Pippa Howard, da Fauna e Flora Internacional, acredita que ações como essa terão também um impacto sobre os consumidores. Ela lembra que recentemente a Unilever foi duramente criticada no Reino Unido por utilizar óleo de palma extraído de plantações na Indonésia para fabricar o sabonete Dove.

Já Andrew Mitchell cita o caso de consumo de carne em todo mundo, questionando se não seria possível às pessoas reduzirem seu consumo para diminuir a demanda por gado criado na Amazônia. “Como consumidores, estamos todos juntos”.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

De doer o Coração



É duro passar pelas cidades humildes de minas, notadamente no Vale do Mucuri, como Poré, Malacacheta e Água Boa, e ver a população rural, castigada pelo sol e miséria, levar seus produtos para vender na praça. Os mercados livres ocorrem nessas cidades, geralmente aos sábados, fazem parte de um folclore conhecido: as próprias famílias- pais filhos e netos - vão ali vender tudo o que produzem de maneira rudimentar: farinha, couve, pimenta até mandioca, milho e feijão, incluindo galinha, porco e etc...

No fim da feira, muito pouco é vendido. E o muito que é refutado vai perdendo o viço , acaba sendo trocado, como forma de subsistência entre os próprios produtores. A gente da cidade grande ali, visitante, vai comprar milho verde, por exemplo, e descobre a completa falta de política agrária. Para não dize desumana mesmo do governo, com quem ainda produz alimento nesse país.

-Quanto custa o milho? pergunto
Uma mulher com o rosto cheio de rugas, a pele seca, mãos calejadas e dentes poucos, responde:
-Dois reais, "seu" moço
Dou o dinheiro, duas moedas somente, que ás vezes nem pegamos de troco em BH. E ela, que tem rosto com sulcos profundos e sorriso bom, pega uma sacola de plástico usada, escolhe uma dúzia( e não uma espiga como perguntei). Acrescenta mais duas, como cortesia, já são 14 e diz:
-Deus lhe pague, "seu" moço!
Penso em Deus e faço as contas: cada espiga do milho que aquela mulher de ar sofrido conseguiu colher em meio à seca constante, depois de tanto ter cuidado da roça,pegado na enxada com o marido e filhos, cavoucando o chão, capinando o mato, colhida a safra, colocado no lombo do burro, etc.. e vendido ali para sustento da sua família vale.... 0,14 centavos????

É assim que o governo e os políticos do setor, apesar de todo um discurso histórico de investimento e apoio que propagam, ainda tratam, doidamente, o nosso homem do campo.

É injusto demais! Tal como ainda fazemos com quem produz leite, ainda hoje absurdamente mais barato que um litro de refrigerante.
Até quando?????

Revista Ecológico - Fev de 2010 - Seção Kid Itabirito , O Espírito que anda pelas Gerais, pg 09