domingo, 18 de abril de 2010

E o Isidoro como fica?


Estão querendo acabar com o pouco que resta de nossas áreas verdes!!!



1. Origem:

Formado por propriedades particulares, por muito tempo o cinturão verde na divisa com o município de Santa Luzia ficou à mercê da ocupação irregular, sem qualquer intervenção do poder público. A implantação da Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves, a construção da Linha Verde, além da transformação do aeroporto de Confins em terminal industrial mudaram o perfil da região. De vazio circundado por bairros populares, como Ribeiro de Abreu, Tupi-Mirante e Zilah Spósito, sempre sob ameaça iminente de degradação ambiental, o Isidoro transformou-se em área cobiçada pelo mercado imobiliário. O motivo? A região está no Vetor Norte, novo eixo de desenvolvimento da região metropolitana.

A última fronteira verde de Belo Horizonte está prestes a perder um pouco de sua cor e ganhar toneladas de concreto. Cortada pelo Ribeirão Isidoro, integrante da Bacia do Rio das Velhas, a imensidão de mata na Região Norte da capital deve receber em breve 300 mil habitantes. Para efeitos comparativos, o contingente supera a população de Uberaba, no Triângulo. A Prefeitura de BH pretende transformar o território, conhecido como Isidoro ou Granja Werneck, derradeira grande área não ocupada da cidade, na 10ª regional de BH, abrindo as portas para a construção de 72 mil apartamentos, shopping center, hipermercado, escolas, postos de saúde, entre outras estruturas. A proposta altera padrões de urbanização de 10 quilômetros quadrados, dimensão superior à da Avenida do Contorno, que tem 8,9. Também mexe no berço onde tributários límpidos do Velhas e da Bacia do Rio São Francisco repousam, em meio à selva de pedra chamada BH.

A proposta da Prefeitura de Belo Horizonte leva em conta a nova realidade da área verde e põe toda a extensão sob o rótulo de operação urbana consorciada. Sob os termos de uma lei especial, o poder público coordenará, com a participação dos empreendedores, medidas para melhorar a infraestrutura, serviços básicos e a preservação ambiental. Em outras palavras, a prefeitura muda os parâmetros de ocupação: o Isidoro deixa de receber casas, em terrenos de até mil metros quadrados, para abrigar prédios em áreas de 5 mil metros quadrados. Já os proprietários se comprometem a dotar a área de infraestrutura e equipamentos públicos, num investimento total de R$ 1,07 bilhão.

Com as mudanças, a permissão para construir salta de 16,3 mil para 72 mil unidades habitacionais. Fala-se até no surgimento de um novo Belvedere III, em referência ao bairro da Região Centro-Sul que reúne edifícios de alto luxo. Os empreendedores serão obrigados a instalar 14 centros de saúde, 16 unidades de educação infantil, 21 escolas de ensino fundamental e oito do ensino médio, dois centros profissionalizantes, 17 terminais de ônibus, um de integração de transporte, dois auditórios, além da sede da administração regional, estrutura que atenderá uma população de 300 mil pessoas.

A história da Granja Werneck começou no início do século 20, quando o médico carioca Hugo Werneck veio do Rio de Janeiro para morar em BH, a fim de se tratar de tuberculose. Antes disso, seu pai, que foi médico da princesa Isabel, enviara o jovem para a localidade de Arosa, perto de Davos, na Suíça, com a mesma finalidade. “Quando ele voltou, disseram que a nova capital de Minas tinha ótimo clima e podia fazer muito bem à sua saúde”, conta o neto Fernando Vianna Werneck.


Mas o destino reservava boas surpresas para o jovem médico, que foi um dos fundadores da Escola de Medicina, da Santa Casa, dos hospitais Madre Tereza e São Lucas. Belo Horizonte, explica Fernando, dispunha apenas de um posto de saúde. Um dia, estando lá, Hugo Werneck socorreu uma parturiente, que apresentava complicações, e conseguiu salvar a mãe e a criança. A partir desse episódio, voltou a clinicar, pois sua fama de bom médico correu longe. Animado, acabou comprando o terreno de então 638 hectares, que apresentava a média anual climática semelhante à de Arosa. E, curiosamente, não morreu de tuberculose, mas de câncer, aos 57 anos.


Em 1928, Hugo Werneck inaugurou um sanatório para tuberculosos, que foi erguido com seus próprios recursos. Alguns o criticaram. Ele respondeu que ‘uns plantam couve e outros plantam carvalho'. Na década de 1970, o prédio de mais de 8 mil metros quadrados, que fica numa área de 250 mil metros quadrados, se tornou o Recanto Nossa Senhora da Boa Viagem, vinculado à Fundação de Obras Sociais da Paróquia da Boa Viagem. Nessa instituição de longa permanência vivem atualmente 75 idosos, que recebem tratamento psicológico e acompanhamento médico e de enfermagem.

O lugar tinha tudo para ser um belo mirante, não fosse o lixo espalhado e o cheiro de bichos mortos. Um dos pontos mais altos do Bairro Tupi, na Região Norte de Belo Horizonte, tem uma vista de quase 360 graus, permitindo enxergar parte de prédios da Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves, o trânsito frenético da Avenida Cristiano Machado e até o casario e as torres da igreja matriz do município vizinho de Santa Luzia. Mas o que domina mesmo a paisagem é a exuberância da Granja Werneck, com seus 400 hectares, área equivalente a 70% do perímetro da Avenida do Contorno, na capital. A região é propriedade das mais relevantes da Região do Isidoro ou Granja Werneck, que está perto de se transformar na 10ª regional de BH.

2. Futuro desenvolvimento e infra-estrutura:

Faz parte do acordo o empréstimo de 3 mil unidades habitacionais à prefeitura, durante a Copa do Mundo de 2014, para abrigar uma Vila Olímpica. Um décimo das construções também será destinado ao programa de habitação do governo federal Minha casa, minha vida. O sistema viário terá investimento de R$ 573 milhões, facilitando a circulação na região, cujos principais acessos são a Avenida Cristiano Machado e a MG-020. A Via 540, com 6,7 quilômetros, ligará os dois corredores viários. Já a Via Norte-Sul cortará a região, ligando a Via 540 aos bairros Jaqueline e Marize .

Outra condição é a implantação de dois parques. O Leste terá 2,3 milhões de metros quadrados, tornando-se o segundo maior de BH, atrás apenas do Parque das Mangabeiras, com 2,45 milhões de metros quadrados. Já o Oeste terá 500 mil metros quadrados, mais que o dobro da área do Parque Municipal. A proteção ambiental também está garantida em reservas particulares abertas ao público.


A proposta mantém 44% da área totalmente preservada. A proposta possibilita que haja a verticalização das construções para aumentar a permeabilidade do terreno. Em vez de construir muitas casas, passa-se a construir menos prédios. Esta é a última área vazia, sem prédios, de Belo Horizonte e também das últimas com grande cobertura vegetal. A capital está totalmente construída, sobrando apenas 4% de áreas desocupadas. A Granja Werneck e demais regiões do Ribeirão Isidoro representam 90% dessas áreas que restam. O Córrego dos Macacos é considerado o último curso d’água limpo de BH.

Em toda a Bacia Hidrográfica do Isidoro, principal contribuinte do Ribeirão do Onça, importante afluente da Bacia do Rio das Velhas, são 64 córregos e 280 nascentes, sendo 66 drenadas ou aterradas. A área da bacia corresponde a cerca de 20% de BH e está situada, em grande parte, na Região do Isidoro.

O Projeto Manuelzão, da Faculdade de Medicina da UFMG, que trabalha pela revitalização da Bacia do Rio das Velhas, afirma que o projeto de urbanização traz muita dor de cabeça. “A região já tem um grande passivo ambiental, com muito esgoto clandestino lançado diretamente nos córregos, fora os problemas sociais de habitação e violência. Qualquer outro empreendimento seria extremamente trágico e agravaria esses passivos."


Para o coordenador-geral do Manuelzão, o médico Apolo Heringer Lisboa, diante da Região do Isidoro está a oportunidade de a prefeitura aplicar toda a experiência acumulada no que diz respeito a bacias hidrográficas e sistemas de drenagem. “A prefeitura tem que ter uma nova postura. Já era para ter aprendido a incorporar os rios e córregos à vida urbana, implantando parques lineares nas margens dos cursos d’águas e transformando-as em grandes corredores ecológicos”, diz

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